Uma das maneiras de se desenvolver um texto poético é a associação de ideias. Ia dizer livre associação, mas isso me remete a algo randômico e não sou tão anárquico como sujeito nem como poeta a ponto de gostar quando colocam dezenas de papeizinhos com palavras dentro de um guarda-chuva fechado e em seguida o abrem e do jeito que os papeis pousarem no chão, está feito um poema. Faz sentido enquanto provocação que mexe com o já estabelecido e só.
Poeticamente falando, associações de ideias se dão pelas afinidades sonoras e pelos significados das palavras, daí elas não serem plenamente livres. O telefone-sem-fio da brincadeira infanto-juvenil se sofistica na mesma medida do amadurecimento de quem brinca (a sério ou não) de poetar.
Na prosa - mais na ficcional - as associações de ideias se fazem presentes, mas por se tratar de linguagem extensiva, é na poesia, linguagem eminentemente econômica, movendo-se num território mais exíguo, onde a escassez do significante busca produzir a abundância do significado (e nisso reside boa parte do fascínio exercido pela poyesis) que as associações de ideias ganham sua face mais extrema e visível para o leitor.
O enfoque nas associações de ideias não significa o elogio à forma pela forma. Um texto poético assim pode, mesmo quando de maneira subjacente, em segundo plano, sutil, ter o(s) significado(s) como passageiro(s) desse significante-veículo.
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