Importante

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Equação poética

Num poema erótico, de amor, é mais comum a narrativa na primeira pessoa, pelo óbvio fato de ser temática que remete quase de forma inevitável ao eu. Os textos que fogem a este padrão são quase exceções. O alvo desse amor e paixão pode ser foco exclusivo do texto, como num retrato, mas a exclusão do narrador, ou seja, sua ausência “da cena”, dota o poema de ares de idolatria, voyeurismo, mais que de amor, de parceria e troca.
O meio termo é um caminho, onde o objeto do sentimento-desejo está no foco, no cerne do texto, sem a exclusão do narrador e então o outro e o eu são contemplados (no duplo sentido da palavra) e a primeira e a terceira pessoa do singular dão lugar à primeira pessoa do plural. Dessa dinâmica brota o calor e empatia do leitor com o poema.
O eu do autor está presente, mas como fator de uma soma e não como uma unidade indivisível e “imultiplicável”.



Pas-de-deux


Almas nuas ao despir roupas carnais
entrelaçam-se e ficam muito juntas
O fluido corporal que convida e unta 
não se resume aos instintos animais



E é por ser prazer da alma liquefeito
que o gozo é êxtase ainda que breve
E quanto mais profundo tanto mais leve
Como cabe a todo pas-de-deux perfeito



Ficas zonza porque a alma quer decolar
Mas a matéria lhe rouba combustível
Corpos em fusão não vão se descolar



Denso e sutil pulverizando o impossível
Bom ser infantil, sugar o polegar

e ousar tentar fruir o inatingível  


                    Assistam o vídeo baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc