Sou carioca, nascido em Botafogo. Sou apaixonado pela minha cidade feminina , curvilínea e sedutora. E ela não sucumbe aos maus tratos, não se submete e a cada manhã emerge gloriosa, para o renovado encantamento dos que a amam.
Clarice Lispector disse que Brasília é cidade que não tem esquinas. Assustador. Mas desse susto os cariocas e visitantes não morrem. Vivemos num lugar pródigo delas. O Rio é uma cidade que convida à exploração a pé, com a lentidão dos amantes sem pressa que valorizam a fruição tântrica. Com serena intensidade.
Quando caminho, ou mesmo corro, seja à beira-mar, na Floresta da Tijuca ( a maior floresta urbana do mundo), ou em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, não consigo evitar um permanente embevecimento com o que meus olhos contemplam. É como se eu fosse sempre um turista recém-chegado sob o impacto de tanta beleza.
O Rio é uma rara e feliz combinação de mar e montanha abraçando e até invadindo uma urbe moderna e antiga em graciosa convivência. Um dia um beija-flor nos visitou, entrou em casa. Até os beija-flores cariocas são assim.
Ode
Fonte luzidia
Dupla vanidade
Luz, mitologia
Truques da cidade
Vista assim do alto
Urbe de poema
Leitos de basalto
Vaga-lumes, gemas
Desço e aterrizo
num caleidoscópio
Caos no paraíso
Náiade travessa
Sabes ser meu ópio
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