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sábado, 7 de janeiro de 2012

Criancices sem idade

Em nós, adultos, as neuroses vão se somando, acumulando, na inversa proporção da espontaneidade e doce inconsequência de quando crianças, que vão pouco a pouco nos abandonando, à medida  que vamos crescendo.


Um adulto normalmente não gosta de sentir cócegas, de pegar chuva, de ter ataque de riso sem motivo lógico, de coisas que crianças sempre adoram. A cultura, a educação, enfim, tudo conspira contra o lúdico do universo adulto. O civilizado é ser circunspecto, é sufocar até a morte a criança que fomos e  que quer continuar nos habitando, proprietários do nosso corpo e alma que insistimos em despejar como se fossem apenas inquilinos inadimplentes. 


Particularmente prefiro nos ver como seres que são o somatório de todas as idades que tivemos, que todos esses nossos "eus" estão vivos e presentes, participando da nossa vida e a influenciando. Sou ainda o menino de 5, o de 10, o adolescente de 15, o adulto de 25, o maduro de 50, com todo esse acúmulo de perplexidades e encantamento que nos constitui e nos faz singulares.


O humor, o besteirol, as babaquices, bobeiras, pegadinhas, trotes, são, na maior parte do tempo, inconscientes revoltas contra essa interdição civilizatória ao lúdico. São consentidas rebeldias, servindo de válvulas de escape para a pressão depressiva do dever, da correção, da seriedade, do formalismo, do rigor das normas, da etiqueta, do bom mocismo muitas vezes apenas hipócrita, enfim, de tudo o que faz, ou pelo menos tenta fazer, a vida mais sem graça, mais sem brilho, mais previsível, sem improvisos nem surpresas...



A vida é um trem
num querer saltar dos trilhos
que a gente contém




Mentiras de poeta


Dessa matéria de que o sonho é feito
teimo em moldar bizarros pesadelos
Quase não passo a bordo de um camelo
por uma agulha de orifício estreito

Não que eu rejeite os prêmios do conforto
nem os regalos vindos da certeza
Mas que tolice é a vida sem surpresa
Velas ao mar e sempre o mesmo porto

Onde o porquê de tudo tão preciso
sem o sabor do risco e do improviso ?
Tão previsíveis são as linhas retas 


Sou a cigarra que jamais tem planos
Cada alegria custa mil enganos
e vezes mil mentiras de poeta


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