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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pérolas


Irreverente, Romário, provocado por jornalistas a comentar críticas de Pelé a seu respeito, usou do seu cortante sarcasmo e disparou: Pelé, calado, é um poeta...
Irreverências à parte, Romário acertou em cheio, porque com a bola nos pés, mesmo sem falar nada, Pelé foi um poeta. Seus dribles e gols foram achados poéticos dignos de um Fernando Pessoa ou Manoel de Barros, luminosos e surpreendentes. Arte pura.

A poesia está impregnada tanto num soneto de Shakespeare como em cenas do cotidiano. Por isso o olhar (também o ouvir) é coautor nisso. O aleatório e o planejado, a Natureza e o homem podem ser poéticos.

Augusto Ruschi, o cientista brasileiro que foi a maior autoridade mundial em orquídeas e colibris e convivia com eles numa reserva ambiental no Espírito Santo pra mim foi um poeta. Não sei, mas acredito que ele nunca tenha arriscado escrever alguns versos, Mas seu trabalho e sua vida foram uma singular mistura de ciência, paixão e poesia.

Bach fez poesia com sua harmonia barroca, Chaplin fez o mesmo no cinema ainda mudo. Wim Wenders faz o mesmo com Asas do desejo e Paris, Texas. Van Gogh e Picasso idem com os pincéis. O Aleijadinho, com seus cinzéis precariamente amarrados ao que restou dos seus braços, esculpiu xilopoemas. Edu Lobo e Chico Buarque fazem poesia duplamente em canções primorosas como Beatriz e Valsa brasileira.

Somos sortudos e privilegiados de conhecer essas pérolas que enfeitam o colo das nossas almas.

Risco                      

Pela
tela
nua
e crua
arisco
no inquieto traço
Picasso
corria o risco
E ela
a tela
ria
e chorava
Sangria
e lava
Parceria
nem sempre terna
Eterna

                                                                              

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