Poéter
Um
poeta é amiúde um esteta que nos translude falando a verdade que mora em si, sem
dó, em pó e cintilâncias, suas ânsias e reentrâncias, tramas e tranças do
tecido no tear solar ou lunar. Um poeta é esteta, mas é quando em vez profeta
sem querer, ou faz acontecer o que não é, rubis que nascem no pé, com os
sentidos no não sido, com a pena da escrita feito espada, do pranto à risada,
do sexo ao perplexo, do inquieto ócio ao sereno paradoxo. Um poeta é rugido de
vulcão, é silvo doce de oboé, é o que vai a pé quando todos têm pressa, é dizer
o óbvio às avessas, desvendar o encanto enquanto o mundo sonega tesouros e afia
tesouras. Ser poeta é criar mares onde há desertos, fazer remotos lugares
parecerem perto, dotar as palavras do condão que mobiliza, da precisão nessa
vida imprecisa, despir o véu, tornar só um o que é de céu e chão.
Meta-bólica
Comi um
poema
até o talo
e ao
mastigá-lo
por entre os
dentes
umas
palavras
(que
insolentes!)
se
intrometeram
feito
pingentes
num trem
urbano
E eu,
espartano
quis
palitá-las
banir as
pobres
vernaculares
dos novos
lares
cuspir nos
ares
Não fui tão
nobre
Fui
refratário
Quis
rejeitá-las
Mas ao
cuspi-las
involuntário
eu declamei
novo poema
do mesmo
tema
que degluti
E as
palavrinhas
ficaram
minhas
não mais
sozinhas
Comigo aqui
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