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sábado, 7 de julho de 2018

Céu e chão


                           
                            

                             Poéter

Um poeta é amiúde um esteta que nos translude falando a verdade que mora em si, sem dó, em pó e cintilâncias, suas ânsias e reentrâncias, tramas e tranças do tecido no tear solar ou lunar. Um poeta é esteta, mas é quando em vez profeta sem querer, ou faz acontecer o que não é, rubis que nascem no pé, com os sentidos no não sido, com a pena da escrita feito espada, do pranto à risada, do sexo ao perplexo, do inquieto ócio ao sereno paradoxo. Um poeta é rugido de vulcão, é silvo doce de oboé, é o que vai a pé quando todos têm pressa, é dizer o óbvio às avessas, desvendar o encanto enquanto o mundo sonega tesouros e afia tesouras. Ser poeta é criar mares onde há desertos, fazer remotos lugares parecerem perto, dotar as palavras do condão que mobiliza, da precisão nessa vida imprecisa, despir o véu, tornar só um o que é de céu e chão.


Meta-bólica



Comi um poema
até o talo
e ao mastigá-lo
por entre os dentes
umas palavras
(que insolentes!)
se intrometeram
feito pingentes
num trem urbano

E eu, espartano
quis palitá-las
banir as pobres
vernaculares
dos novos lares
cuspir nos ares
Não fui tão nobre
Fui refratário
Quis rejeitá-las

Mas ao cuspi-las
involuntário
eu declamei
novo poema
do mesmo tema
que degluti
E as palavrinhas
ficaram minhas
não mais sozinhas
Comigo aqui


             

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