Seres
desejantes que somos, é natural que sonhemos alto, que sonhemos grande. O
símbolo de Sagitário é um centauro enviando uma flecha alta e distante, ou
seja, grandes metas. Grande implica em difícil, muitas vezes demorada.
Por
outro lado, Mao Tse Tung disse que o passo mais importante no longo caminho é
justamente o primeiro. Cada desejo reverbera e repercute no interior de cada
subjetividade. O que é sonho pra mim, pode não passar de um cisco no olho de
outros.
Fiquei,
mais uma vez, pensativo sobre pequenas e grandes ambições, sonhos, planos.
Nossa natureza não só mental, mas também biológica, nos encarcera em
experiências fugazes. Cada prazer, cada relevante momento que experienciamos
traz em si a marca do transitório. E o modo que está ao nosso alcance de reter
e mesmo “eternizar” isso é na memória. Diz-se até que o que tem sentido e valor
na vida é o que é memorável.
Mas
como somos meio megalômanos, tendemos a fazer grandes e muitas vezes
inatingíveis planos, como se cada pequeno triunfo, ou mesmo cada ínfimo
contentamento de uma brisa fresca, um canto de pássaro, o sabor de uma fruta,
não fossem dignos da nossa consideração. Na verdade a transitoriedade de nossas
experiências, a maior parte das quais baseadas nos nossos sentidos, de certa
forma iguala, nivela grandes e pequenos eventos.
Quem
não valoriza um vinho caro e raro, uns mergulhos nas cristalinas praias das Maldivas,
um passeio de balão pelos céus da Capadócia? Mas se estivesse ao nosso alcance
perenizar isso, será que, transformada em rotina a excepcionalidade, se
esvaziaria o valor?
Não,
não estou sugerindo que nos contentemos com pouco, com o pequeno e modesto.
Apenas ressalto que o micromomento, a ínfima alegria, o imanente, o singular, o
imprevisto, podem trazer o tanto de desconcerto que de certa forma contribui
pra nos distinguir dos outros seres vivos e também produzir memória porque é
quando a matéria entra em sinergia com o espírito que tudo ganha mais sentido.
Vento que açoita o
trigal
Rio do que é turvo
e denso
Terremoto, temporal
Tudo é menor do que
penso
Quero tudo tão intenso
Múltiplo salto
mortal
Que este oceano
imenso
não transborde num
dedal
Esta vela é só um
lenço
para um mastro tão
extenso
e não sai do
litoral
Grito uma raiva
abissal
numa canção
visceral
Mato a morte em
sonho e a venço
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