Importante

Todos os textos do blog, em prosa e verso, a não ser quando creditado o autor, são de minha autoria e para serem usados de alguma forma, necessitam de prévia autorização.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Memorável



Seres desejantes que somos, é natural que sonhemos alto, que sonhemos grande. O símbolo de Sagitário é um centauro enviando uma flecha alta e distante, ou seja, grandes metas. Grande implica em difícil, muitas vezes demorada.

Por outro lado, Mao Tse Tung disse que o passo mais importante no longo caminho é justamente o primeiro. Cada desejo reverbera e repercute no interior de cada subjetividade. O que é sonho pra mim, pode não passar de um cisco no olho de outros.

Fiquei, mais uma vez, pensativo sobre pequenas e grandes ambições, sonhos, planos. Nossa natureza não só mental, mas também biológica, nos encarcera em experiências fugazes. Cada prazer, cada relevante momento que experienciamos traz em si a marca do transitório. E o modo que está ao nosso alcance de reter e mesmo “eternizar” isso é na memória. Diz-se até que o que tem sentido e valor na vida é o que é memorável.

Mas como somos meio megalômanos, tendemos a fazer grandes e muitas vezes inatingíveis planos, como se cada pequeno triunfo, ou mesmo cada ínfimo contentamento de uma brisa fresca, um canto de pássaro, o sabor de uma fruta, não fossem dignos da nossa consideração. Na verdade a transitoriedade de nossas experiências, a maior parte das quais baseadas nos nossos sentidos, de certa forma iguala, nivela grandes e pequenos eventos.

Quem não valoriza um vinho caro e raro, uns mergulhos nas cristalinas praias das Maldivas, um passeio de balão pelos céus da Capadócia? Mas se estivesse ao nosso alcance perenizar isso, será que, transformada em rotina a excepcionalidade, se esvaziaria o valor?

Não, não estou sugerindo que nos contentemos com pouco, com o pequeno e modesto. Apenas ressalto que o micromomento, a ínfima alegria, o imanente, o singular, o imprevisto, podem trazer o tanto de desconcerto que de certa forma contribui pra nos distinguir dos outros seres vivos e também produzir memória porque é quando a matéria entra em sinergia com o espírito que tudo ganha mais sentido.


Canção visceral



Vento que açoita o trigal
Rio do que é turvo e denso
Terremoto, temporal
Tudo é menor do que penso

Quero tudo tão intenso
Múltiplo salto mortal
Que este oceano imenso
não transborde num dedal

Esta vela é só um lenço
para um mastro tão extenso
e não sai do litoral

Grito uma raiva abissal
numa canção visceral
Mato a morte em sonho e a venço




Nenhum comentário:

Postar um comentário