"A cultura do
consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao
ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas
envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de
vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias,
fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia
e o trabalho que as gera.
O dinheiro
voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e
todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping
centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança.
Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem
memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa
realidade do mundo.
Os donos do
mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera
que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a
metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem
tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos
obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas
empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo?
A sociedade
de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo,
mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das
pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a
existência da pouca natureza que nos resta.
A injustiça
social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade
essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do
planeta."
*Eduardo
Galeano, falecido em abril de 2015, considerado um dos principais escritores e
pensadores políticos da América Latina do último século.
Injústria
Seres
analógicos
Em mundo
digital
Só digitais
impressões
Seremos não
mais
que teses de
robôs antropomórficos
Perdidos os
instintos
Vamos ser extintos
num fatal
labirinto
de eficácia
industrial
Motor voraz
Extintor que
faz
a vida banal
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