Ser artista é dar murro em faca pontuda e nadar contra a
corrente. Portas fechadas? Não existem portas, só janelas, por onde esticamos
pescoços pra bradar. O mundo é prático e tende a preferir simples arremedos a
coisas menos rasas e imediatistas que obrigam a refletir. Estamos na ordem da
estupefação e do atordoamento, anestésicos pra angústia de viver sem no fundo
nem na superfície sabermos a que se
destina e com que propósito. E vamos alternando escapismos com filosofices e individualismo com coletivices
solitarizantes. Nietzsche disse que temos a arte pra que a verdade não nos
aniquile. O que parece fuga é concretude e motor. O artista antena e reverbera tudo isso e regurgita de várias formas, particularmente
o contador de histórias, o raconteur, o menestrel, o repentista, o rapper, o poeta.
Narro o que narra
Aponta o lápis
Extrai as farpas
Sem penas próprias
Encharca a pena
Vazam volúpias
Noites de núpcias
Força do verbo
Na dor que narra
Fugas e amarras
Mais os prazeres
Superlativos
(que ele amplifica?)
Sim, tem seus crivos
que não sabotam
Não vive em Gotham
Nem todo mote
é embarcação
Ora canção
Gritada trova
Copo de fel
ou mel no favo
Em desagravo
ao coração
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