Sou o que chamam de sonetista, ou seja, alguém que ousa tentar escrever
sonetos.
Sonetos, na forma, são poemas de 4 estrofes, dois quartetos e dois
tercetos, totalizando 14 versos. Vêm da tradição literária francesa e inglesa.
Shakespeare os escreveu, Pablo Neruda e Augusto dos Anjos também, entre tantos
outros luminares do gênero.
Lembro-me do fascínio e do impacto estético e existencial que a leitura,
ainda adolescente, dos sonetos de
Augusto dos Anjos me causou. O registro disso no meu inconsciente deve ter sido
tão marcante que, mais tarde, vim a me aventurar pela escrita deles.
Sonetos são considerados, quase uma unanimidade, de feitura árdua. E não
é pra menos. Os cânones que o caracterizam são precisos e rigorosos. Você tem
que expressar sua ideia e emoções em exatos 14 versos, iniciados por dois
quartetos e finalizados por dois tercetos. A métrica não se impõe com menos
rigor. A estrutura das rimas, sua disposição ao longo do texto, até que aceita
algumas variações, mas a simultaneidade disso tudo cria dificuldades para seus
autores.
Manter a coerência da sua ideia, tendo de cuidar da métrica rigorosa, das
rimas em seus devidos lugares, leva quem os escreve a exercitar uma espécie de
jogo de armar, onde a criação e encadeamento dos versos não segue
necessariamente uma linearidade. Pra ilustrar com um exemplo pessoal, certa vez
comecei a escrever um soneto pelo último verso.
Sim, confirmo que sonetos são de construção árdua, mas ocorre que isso me
instiga, desafia. Poucas coisas são tão prazerosas para um sonetista - se me
permitem falar por todos – que contemplar um novo soneto concluído e se dar
conta de que ele ficou bom. Que, a despeito das dificuldades impostas pelos
rigores das regras, ele conseguiu se expressar. Chego a pensar que tais
“obstáculos” não raro estimulam a criatividade e as boas ideias até mesmo pra
contornar as limitações.
Às vezes, por puro espírito lúdico, mesmo quando a proposição temática é
densa, me imponho ainda mais rigores, como por exemplo: me propor a escrever um
soneto só com palavras monossílabas, ou proparoxítonas, ou com uma única rima
em todos os versos. São pequenas
transgressões que me permito, ao mesmo tempo em que crio essas regras
extras.
Sonetos são uma das mais tradicionais formas poéticas. Tem tantos
apreciadores, tanto seus autores quanto leitores, que seguem firmes até hoje,
com relativo volume de produção, em que pese o temor que inspira em muitos
poetas.
Particularmente, gosto de escrevê-los em sua rigorosa forma clássica, mas
também refrescá-los com experimentações. Meu fascínio de adolescente com o
tempo se transformou num prazer difícil de descrever ao construí-los, mesmo
quando me ponho a mudar palavras em busca da perfeição da sonoridade e do ritmo,
mudar por vezes um verso inteiro ou até uma estrofe inteira, tal qual uma mulher
sedutora e atraente que no entanto se revela difícil e exigente.
sou poeta e só escrevi um soneto meu repertorio e quase totalmente de poesia livre sempre tive pudor de escrever sonetos
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