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quinta-feira, 20 de março de 2014

Versos que são sentenças


Um dia desses, numa conversa com uma amiga e excelente poeta, ela compartilhou comigo uma coisa que subitamente começou a incomodá-la ao exercitar sua escrita e eu prontamente concordei. Falo da chamada poesia adjetiva. Minha amiga começou a se dar conta de que andava usando muitos adjetivos em seus poemas.

Substantivos são os nomes das coisas concretas e abstratas. Substantivo descreve. Verbo dá conta do agir, do fazer, pelos verbos se traduz o que acontece. E tirando as partículas que alinhavam o texto, pronomes, artigos, conjunções, advérbios, etc, restam os adjetivos. Adjetivo qualifica, categoriza. E qualificação é julgamento.

A melhor poesia raramente se constitui essencialmente de adjetivos. Um poema recheado de adjetivos, que se excede no juízo de valores, se reveste de um caráter prescritivo. E, cá pra nós, de prescrições já nos bastam pai e mãe, médico e pastor.

Avaliar, qualificar, comparar, propagar valores, faz parte da nossa natureza, mas nem por isso, penso eu, devemos dar livre vazão à volúpia de julgar e com isso incorrer no erro fundamental de discriminar e até “eugenizar”, de categorizar castas, dar notas de excelência e inépcia, quando na verdade somos todos diferentes e singulares, mas iguais em nossa contraditória humanidade.

Proponho um exercício aos poetas e aficcionados da poesia, que eu mesmo já fiz e voltarei agora a fazer: releiam seus poemas e de outros poetas também, conhecidos e consagrados ou não. E depois digam a si mesmos se dentre os seus eleitos, seus favoritos, predominam os poemas adjetivos ou os substantivos.

Depois vou querer saber o que vocês constataram. Digo isso sem pretender prescrever.

Pra fechar, quero compartilhar com vocês uma ideia radical que me ocorreu e que resultou num poema totalmente desprovido de adjetivos e até de substantivos, feito inteiramente com verbos, que descrevem ação, pensamento e sentimento, fugindo do julgar e apenas no subtexto, de forma indireta, convidando o leitor a tirar conclusões.




4 comentários:

  1. Sempre um prazer aparecer por aqui e aprender sempre mais um pouco. Nunca tinha reparado nessa questão que você colocou aqui. Vou prestar atenção. Delícia de prosa e o poema então, nem sei como classificá-lo! Demais! Só você mesmo pra ter essa sacada!

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    1. Obrigado, Roseli, minha leitora e seguidora de primeira hora!

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  2. Olá, Jorge, como vai? Tomei a liberdade de publicar este teu belo poema na minha Revista PROTEXTO: http://remisson.com.br/2014/03/21/versos-que-sao-sentencas/
    E te espero nas nossas páginas. Cadastre-se e escreva. A tua presença será uma honra para nossos leitores.
    Abraço do Remisson

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    1. Obrigado, Remisson. Vou lá conhecer a Protexto. Um abraço!

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