Somos seres regidos pela dicotomia corporal/mental, sensação/sentimento, matéria/espírito.
A angústia predomina quando essas duas naturezas por algum motivo não se harmonizam.
Não importa o sentido do caminho, quando o denso e o impalpável se interpenetram, vem a plenitude e a alegria.
Camile Claudel esculpe em bronze e sua pequena estátua como que grita e explode em vida na percepção de quem a vê.
Um violinista extrai da madeira e das cordas notas musicais que invadem o ar rumo aos tímpanos dos ouvintes criando imagens e emoções intangíveis.
Nossa porção corpórea tende a ser cartesiana, materialista, lógica, de crer no que vê, e buscando a transcendência de ver o que crê.
Afeto e tesão podem se originar um do outro. De novo vale a via de mão dupla onde se cruzam e encontram nossas naturezas dicotômicas.
Beijar e abraçar são atos físicos que além de afetar os sentidos são plenos de energia emocional sentimental impalpável e dotados de carga fortemente simbólica, logo, intangível.
O corpo se ressente do que lhe basta e falta, na sua contraparte corpórea, matéria que atrai matéria, mas, já querendo mesmo rimar, a alma que nos anima é etérea que atrai etérea. Então esse lado nosso mais sublime se liberta de seu veículo somático e, intangivelmente vence distância e tempo e de modo invisível cria novas realidades que nem por serem intangíveis são menos reais. Como o amor.
Os três sentidos
Mesmo que entre nós exista um mar
Três milhões de torres e portais
Dez mil anos-luz, quem sabe mais!
Não se faz preciso te tocar
Antes que o meu nome tu recordes
Já surgi veloz em pensamento
Meio suspirar e já estou dentro
Nada que é do sonho e do que acordes
O amoroso elétron toma senso
Ínfimo, agiganta o gozo extenso
E ambos são Golias e Davi
Triplo é o sentido do sentido
Corpo, mente e espírito fundidos
Pleno é o sentimento: agora e aqui
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