Por
mais arrebatadora uma vivência, por mais passional que o poeta seja,
queira transpor isso pra escrita, ele ainda assim está diante do seu
poema em construção. E um poema por despojado que pretenda ser,
singelo, comovido, não deverá prescindir de alguma arquitetura, do
percurso que ele traça até seu desfecho. E isso não se faz
exilando-se a razão
Essa
é uma discussão recorrente na poesia. Há quem defenda
intransigente o império da total espontaneidade sem amarras,
liberdade total na canalização do pensamento que deságua no texto
final. Há quem preconize o oposto. Que poesia é carpintaria,
trabalho árduo, quebra-cabeça meticulosamente montado a serviço de
mensagem, conceito, imagem, questão.
Como
tenho o atrevimento de pressupor alguma perspicácia da minha parte,
prefiro a permanente tentativa de experimentar variadas proporções
desses dois elementos, já que não são excludentes um do outro. A
matemática adquire outros paradigmas no terreno poético e 100% não
necessariamente se constitui do somatório aritmético lógico. A
alquimia que a poesia proporciona leva doses maciças de razão e
emoção a ocupar o mesmo espaço.
Processos
mais racionais de escrita não precisam roubar espaço da emoção.
Ela pode e deve estar presente, pois é ela que gera empatia com o
leitor. Por outro lado, textos carregados de emoção não precisam
abrir mão de uma boa construção, porque isso será veículo mais
eficaz pra intensidade que a alma do poeta queira fazer perpassar no
seu poema.
Quanto
Quero
teu
assalto
Arrebatamento
Quero
teu
mar
alto
Todo
o
teu
tormento
Quero-te
incauto
Brasa
e
filamento
sendo
o
meu
arauto
meu
alumbramento
No
colchão
de
fausto
dos
meus
aposentos
Mesmo
no
asfalto
No
duro
cimento
Teu
banquete
lauto
Meu
contentamento
Tu
ouvindo
alto
os
meus
pensamentos
Quando
a
mim
me
falto
Sejas
meu
unguento
Leva-me
pro
salto
do
eterno
momento