Escrever,
podem crer, é catarse, conformar-se, não há porque não. Escrever: eis crer e
ver, pode ser com os pés no chão, bordando a ilusão, dizendo palavrão, um não
que é sim, um sim que é não; ou não. Escrevo nas filas, no balcão, mentalmente,
sobre um incidente real ou da imaginação, fazendo elo com o leitor, buscando um
belo poema de amor. Escrever é confissão, invenção, é trazer à tona toda essa
zona que nos confunde e nos infunde a compulsão do dizer, dizer por escrito,
pra que o só audito não se perca, rompa a cerca da consciência, afirmar sua
presença que se crava pela palavra, na sua força gráfica, de signo, o seu dom,
benigno.
Vide bula
Palavra é ritmo e dança
Brinquedo de desmontar
Palavra é de som e ar
Aguda ponta de lança
Contida, exaltada. chula
Chicote ou doce canção
Carícia ou demolição
Na dúvida vide bula
É mapa, é lei, estrutura
É luz numa mina escura
Ou pura contradição
Mentira mais verdadeira
Verdade mais traiçoeira
Não diz sim e sim diz não