Ontem testemunhei uma pequena, mas marcante sequência de
eventos. Dia da escolha do novo Papa e véspera do dia da poesia, saí pra correr
no fim da tarde, com a iminente ameaça de um daqueles torós “águas de março”. O Papa já tinha sido escolhido, o argentino meu xará Jorge, autonomeado Francisco
I.
Costumo correr num parque de frente pra praia, num cenário
de cartão postal carioca. A ciclovia em certos pontos corre rente ao mar. E foi
num desses trechos que me deparei com nada menos que...um sósia do novo papa
acabado de ser escolhido! O tempo
instável afugentou as pessoas e a ciclovia, além de molhada, estava
praticamente deserta. O “Papa”, um senhor de óculos, bem parecido com o
original, passou por mim, vestido dos pés à cabeça como o Papa, acompanhado por um skatista que empunhava uma potente
câmera fotográfica e colhia imagens. Depois daquele espanto, prossegui na minha
solitária corrida e mais adiante levei outro susto. Um céu que parecia um imenso
incêndio, de um dourado intenso e amplo como nunca vi, resplandecia por trás do
Corcovado. Era um fim de tarde de um dia que fora ensolarado e isso junto com a
chuva produziu um arco-íris que emoldurava toda essa exuberância.
Vi duas pessoas pararem seus exercícios, meio catalisadas por
toda aquela beleza ainda maior que a habitual nesse lugar. Eu,também, interrompi minha corrida, boquiaberto com a intensidade daquela cena única e belíssima. E lamentei não
estar munido da minha câmera pra registrar aquilo. Era até difícil acreditar
que aquele céu era real. Assim como deve ser pra quem me lê, difícil de não
achar que é exagero meu, licença poética etc. Pois acreditem, foi um evento pra
mim inesquecível.
Essa sequência, entre o pitoresco e o pictorial, me fez lembrar
e pensar o quanto o Rio de Janeiro, além de nos encantar, acaba sempre nos
reservando surpresas fora do script e
perpetuando sua sina de cidade apaixonante.
Não tive outra alternativa a não ser escrever sobre isso e insisto, o poema que já
comecei a fazer mentalmente lá naquele cenário inacreditável é bem um relato
fiel, um depoimento-homenagem bem realista. O esplendor e a singularidade da
minha amada cidade dispensa exageros poéticos.
(En)canto
carioca
Ainda era
dia
quando eu
corria
Fazia sol
Ventava e
chovia
na ciclovia
à beira-mar
E diante do
meu olhar
a se
aproximar
vinha um
sósia
não da Ana Paula
Arósio
mas do novo
Papa Francisco
todo paramentado
passando bem
do meu lado
Tirei até um
cisco
pra ver e
crer
À sua frente
um fotógrafo skatista
colhia imagens
Sem
sacanagem
Não menti,
juro que vi
E ao fundo
como cenário
Creiam, não
sou falsário
o Corcovado
a flutuar
num céu dourado
Parei de
correr, maravilhado
A chuva fez
sua parte
nessa obra
de arte
com um arco-íris,
um poema
Esta cena digna
de cinema
só mesmo no
meu “viveiro”
meu voluntário
cativeiro
E aí, na boa
Não é à toa
que eu sorrio
o tempo inteiro
pro meu Rio
de Janeiro
Coisa mais linda que descreveu de duas formas distintas:prosa e verso. Você mostrou uma veia cronista muito boa. Na poesia já conhecemos seu brilhantismo ao brincar com as palavras. mas meu amigo, nessa crônica carioca, você se esmerou. me vi ao seu lado apreciando essa vista maravilhosa que só o Rio tem. E captou de forma lírica, o cotidiano que sempre reserva pérolas para o cronista. Parabéns! Você foi presenteado e passou adiante esse presente. Quem ganha somos nós, leitores.
ResponderExcluirÉ, Roseli. Venho exercitando meu lado prosador nesses intróitos aqui no blog, mas realmente, dessa vez ficou meio crônica mesmo, pq os fatos pediam isso. Sei que não consegui transmitir de forma plena a singularidade de tudo, mas tentar já foi prazeroso. Meu Rio não se cansa mesmo de encantar a mim e a todos.
ExcluirOlá Jorge!
ResponderExcluirEssa é uma das vantagens de ser carioca. O Rio tem de tudo. Elegem um Papa em Roma, em poucos minutos ele já está no Rio. Sabe por quê? Porque Deus é brasileiro e do Rio de Janeiro.
Meu abraço.
Vc tá coberto de razão, Gilson! Já podemos até criar este bordão: O papa não é brasileiro, mas Deus é. haha. E carioca, então, show de bola! Aquele abraço.
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