Tem poesia que é prosesca, intencionalmente ou não. E tem prosa que é poética. Guimarães Rosa, com sua prosa narrativa singularíssima foi profusamente poético em romances e contos. Manoel de Barros cria o tempo inteiro montado no dorso nu da poesia, mas, do ponto de vista da forma, produz textos que deixam todos sem ter como rotular e definir onde começa a poesia e termina a prosa e vice-versa. O que é fascinante.
Mas a coisa não fica nisso. Muita poesia que no fundo é prosa involuntária, ilude a visão do leitor do texto escrito, por seu formato de poema, onde “versos” muito mais frases, são dispostos verticalmente, literal e literariamente empilhados de modo que se parecem com poemas. Esses textos, quando ditos de viva voz e assim, apenas ouvidos, tornam mais difícil estabelecer essa distinção.
Por uma simples questão de nomenclatura, chamamos de prosa poética tanto a prosa com laivos poéticos, quanto o poema que flerta com a prosa, na medida em que guarda características da poesia, como as rimas e a rítmica, ao mesmo tempo em que se funde com uma forma de narrar mais vertiginosa, para quem lê em silêncio e também para quando ouvida. Então a prosa poética resume num só termo o que poderia ser chamado também de poesia prosaica. Mas isso não soaria bem.
Os textos de hoje se situam mais no segundo caso: da poesia tomando emprestado o modo “falado” da prosa e que se aproxima do rap, sem no entanto sê-lo ou imitá-lo.
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