Nem
tudo o que se imagina e sente é traduzível por palavras. Um pintor
é capaz de traduzir isso com pinceladas. Um mímico com gestos e
expressões faciais. Um compositor, com notas, acordes.
Mas
a poesia é palavra e mesmo coadjuvada por som e ritmo ainda será
palavra.
E
é com a palavra que o poeta expressa imagem, ideia, sensação,
sentimento, movimento. Quando ocorre que as palavras não bastem,
ainda que tão numerosas, ele ainda pode inventá-las. Umas
totalmente novas, outras resultantes da aglutinação de duas ou mais
já existentes, criando um terceiro significado.
Assim,
novas imagens podem surgir e novas sonoridades. Sair da mesmice
previsível e junto levar o leitor, provocá-lo, produzir
estranhamentos. A poesia carrega consigo a marca de dizer as coisas
de formas singulares e com isso evocar imagens, sensações e
sentimentos igualmente invulgares.
Reexpiração
Tua
presausença
me
faz
ambiguirvir
sem
ti
ou
través
e
arre!
meto
dardos
profétão
cético
Vermelhos
ferrões
de
avescorpião
de
apenas
quinta
Tua
aupresência
me
faz
verborragir
sentimentalvez
e
conturbardo
poetecetera
versejo
versões
do
que
vale
a
pena
e
a
tinta
Tua
disproximitância
me
perturva
os
sensos
taquicarde
a
pele
e
o
pulso
vigília
meu
insono
soporifera
mansa,
as
manhãs
Teu
cheiro
entrincheirado
entre
meus
dedos
tatolfatos
Tua
voz
em
pressa
nas
minhas
retinas
arco-audiris
furta-coração
Em
arroubos
furtivos
desato
em
nós
os
nós
do
ex-passo-o-tempo
linear
Homemória
que
tudo
evocaliza
e
sim
tetiza
em
gula
em
sim
gular
sabor
De novo compartilhando com os leitores o making of de um poema: trabalhei sobre antíteses e paradoxos e recheei o texto com neologismos resultantes de aglutinações de duas ou até mais palavras já existentes, buscando novos sentidos e com isso, pelo estranhamento sonoro e semântico, acentuar os paradoxos e a angústia do narrador com o permanente impasse da presença ausente e/ou da ausência presente da amada. Daí as presausenças, aupresências e disproximitâncias, duplos sentidos que traduzem o sentimento ambíguo.