Importante

Todos os textos do blog, em prosa e verso, a não ser quando creditado o autor, são de minha autoria e para serem usados de alguma forma, necessitam de prévia autorização.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Poetecetera (Intreloquidades 2)


Nem tudo o que se imagina e sente é traduzível por palavras. Um pintor é capaz de traduzir isso com pinceladas. Um mímico com gestos e expressões faciais. Um compositor, com notas, acordes.

Mas a poesia é palavra e mesmo coadjuvada por som e ritmo ainda será palavra.
E é com a palavra que o poeta expressa imagem, ideia, sensação, sentimento, movimento. Quando ocorre que as palavras não bastem, ainda que tão numerosas, ele ainda pode inventá-las. Umas totalmente novas, outras resultantes da aglutinação de duas ou mais já existentes, criando um terceiro significado.

Assim, novas imagens podem surgir e novas sonoridades. Sair da mesmice previsível e junto levar o leitor, provocá-lo, produzir estranhamentos. A poesia carrega consigo a marca de dizer as coisas de formas singulares e com isso evocar imagens, sensações e sentimentos igualmente invulgares.



Reexpiração


Tua presausença
me faz ambiguirvir
sem ti ou través
e arre! meto dardos
profétão cético
Vermelhos ferrões
de avescorpião de apenas quinta

Tua aupresência
me faz verborragir
sentimentalvez
e conturbardo
poetecetera
versejo versões
do que vale a pena e a tinta

Tua disproximitância
me perturva os sensos
taquicarde a pele e o pulso
vigília meu insono
soporifera mansa, as manhãs
Teu cheiro entrincheirado
entre meus dedos tatolfatos
Tua voz em pressa nas minhas retinas
arco-audiris furta-coração

Em arroubos furtivos
desato em nós os nós
do ex-passo-o-tempo linear
Homemória que tudo evocaliza
e sim tetiza em gula
em sim gular sabor


De novo compartilhando com os leitores o making of  de um poema: trabalhei sobre antíteses e paradoxos e recheei o texto com neologismos resultantes de aglutinações de duas ou até mais palavras já existentes, buscando novos sentidos e com isso, pelo estranhamento sonoro e semântico, acentuar os paradoxos e a angústia do narrador com o permanente impasse da presença ausente e/ou da ausência presente da amada. Daí as presausenças, aupresências e disproximitâncias, duplos sentidos que traduzem o sentimento ambíguo.