Importante

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sábado, 27 de agosto de 2016

Livramentos


Homem livre arquétipo universal Bem e Mal embate maniqueísta liberdade que se conquista liberdade que o outro outorga prisão com grades e muros graduais algemas invisíveis interiores prender-se a encarcerar-se em armaduras ditaduras opressões apegos medos segregação é prisão censura descultura tudo são prisões senões anões em terra de gigantes grilhões que não basta serrar errar o alvo pensar estar a salvo embaixo do tapete que não voa nunca nunca estar à toa é canoa furada que aprisiona liberdade da persona indivíduo que não divide aprisionamento  coletivo crivo do outro que cerceia homem livre livros lidos todos os sentidos Mandela Gandhi Luther King Zumbi todos aqui em essência presença intensa a inspirar e expirar liberdade vem de dentro sai do centro corre o mundo vai fundo corre por rios e ruas grita que a vida é bonita a mãe Terra berra pros seus filhos que a guerra é autodestruição e  NÃO a ela King Zumbi Ghandi Mandela fundir arte e ciência convergência do ser livre dentro e fora será a nova aurora do Homem.




terça-feira, 23 de agosto de 2016

Arruaças


Este post é singela homenagem à singeleza da
arte de rua e seus criadores.

São acrobatas, músicos, atores, grafiteiros, palhaços, pintores, poetas, mímicos, dançarinos, mágicos, estátuas vivas, que fazem poesia das mais variadas formas e linguagens e que sobretudo levam essa poesia e encantamento aos transeuntes em encontros casuais, não formais, sem compra antecipada de ingressos nem lugar marcado e na maioria dos casos pra espectadores que não podem pagar nem por um ingresso de cinema, que dirá de  espetáculo do Cirque de Soleil.

E esses artistas vivem da contribuição espontânea de seus espectadores, sem nada exigir, só passando o chapéu. E vão alegrando as ruas e seus passantes das esmagadoras e impessoais metrópoles do mundo, com criatividade, senso de improviso, humor, lirismo, habilidade de extrair muito de parcos recursos, metáforas vivas e vivazes do minúsculo Davi da árvore fértil que dá fruta, sombra e oxigênio contra o gigante Golias da fria rigidez e da motosserra.

Salve o Gentileza, grafitando amor e paz. Salvem os repentistas, os performers, os engolidores de fogo, os desafiadores do improvável. Salvem esses poetas a céu aberto, a despeito de intempéries, cassetetes, normas, choques de ordem e cartesianismos boçais, mas tão amados por quem tem sensibilidade e sede de beleza e diversão. Artistas de rua, artistas do mundo, guerreiros do bem, que ajudam a tornar essa vida mais humana, criativa e feliz.





 


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A maré

Amar é de bom tom. Tão de bom tom que se tornou politicamente correto. O indivíduo que não ama alguém, não ama o próximo, mesmo que seja num hiato de tempo, mesmo que seja uma fase, um momento de indisponibilidade desse afeto, é meio mal visto. Acham e dizem que o sujeito é frio e indiferente. Colam já a etiqueta da vilania em sua testa.

Porque amar é bem visto, o amor, ornado com todos os enfeites e efeitos especiais sob os auspícios das idealizações, é tornado explícito a qualquer preço e daí vem a banalização.

Amor genuíno, sabemos, é sentimento singular e como tal, não o sentimos por tudo e todos, nem o vivenciamos todo o tempo. Nas nossas contradições humanas existe lugar também para outros sentimentos menos luminosos e nobres, ódio, despeito, egoísmo. Mas cobra-se perfeição inumana e isso leva ao flerte com a banalização.

A linguagem expressa e legitima o que se pensa e o que se quer ou não. Quem quer garantir a simpatia e aceitação do outro, abusa do verbo amar e do substantivo amor. Um bloco de carnaval carioca se chama Simpatia é quase amor. Licença poética concedida e irreverência à parte, o fato é que hoje se distribui fartamente “te amo” e “meu amor” pra tudo e todos e em todas as direções.

E assim se nivela por baixo esse sentimento, colocando no mesmo pacote o amor real e algo que ganha ares um tanto caricatos. E tome corações distribuídos como “santinhos” de cabos eleitorais de candidatos políticos. Já foi incorporado pelo chamado senso comum.


Mas o amor, o de verdade, segue sendo uma força motriz que nos coloca num lugar e estado de espírito absolutamente singulares, que as palavras e a arte em geral continuarão proocurando descrever, definir, iluminar e compreender. E nos tocar.



sábado, 13 de agosto de 2016

Limite sem limites


Diferentes formas artísticas podem criar estruturas de expressão semelhantes. O cinema ficcional segue uma estrutura narrativa básica que tem na literatura o conto e o romance como seus afins. Personagens são introduzidos, uma história é contada e se desenrola na direção de um desfecho.

A poesia não comumente usa essa estrutura narrativa. Mas nada impede que seja assim. Um poema pode contar uma história, ter uma trama e um desfecho, que pode, inclusive, ser surpreendente. A linguagem supressora da poesia, oposta à prolixidade da prosa dificulta a narração, mas lidar com essas limitações formais e conseguir contorná-las é prazeroso pra quem escreve. O Twitter nos traz um exemplo expressivo disso com os chamados microcontos, limitados aos escassos 144 caracteres dessa forma de comunicação.

Outro exemplo é o haicai, com seu limite de três versos e dezessete sílabas. Bem escrito, um micropoema assim pode contar uma história com desfecho e tudo.

Sonetos são formas poéticas limitadas a um total de quatorze versos, que se compararmos com os tais microcontos de 144 caracteres ou os haikais, de três versos, se apresenta até como um formato espaçoso para acolher uma história a ser contada. E assim o fiz, ao narrar uma história de amor de final inesperado:

A sós



A boca escancarada de marfim
sorri convidativa e provocante
Duas mãos o acariciam dominantes
Romance entre a centelha e o estopim

Seus dois pequenos pés são pés de gueixa
que deixam-se pisar sem relutância
Precisos trampolins da ressonância
Revelam seus segredos e ele deixa

O som que se produz da transfusão:
madeira no metal no corpo humano
da essência da beleza é a tradução

Termina o prelúdio, desce o pano
Depois dos mil aplausos da emoção
enfim a sós, as mãos e o seu piano



 

                      Assistam no Youtube o vídeo com animação do meu poema circular "Continuum"
http://www.youtube.com/watch?v=X0jPVdpdk7w

sábado, 6 de agosto de 2016

Lento e veloz


O tempo, outro tema recorrente.

Sou um leigo que acha que, “na verdade”, o tempo não passa de uma sensação, que precisamos nomear e descrever e então recorremos a artifícios que remetem a movimento, daí os ponteiros ou dígitos dos relógios, a lenta dança dos planetas, a areia caindo na ampulheta, enfim, como não podemos ver o tempo, abstrato que é, o representamos por coisas que se movimentam. E coisas costumam ser visíveis.

Tanto que além do tempo cronológico, o do senso comum, temos também o tempo paradigmático, subjetivo. A velocidade desse tempo interno, a percepção dele, varia conforme circunstâncias, estados de espírito, ansiedade, apetite (ou falta de) pela vida. E o espanto frequentemente nos visita, quando vivenciamos o contraste, o paradoxo do tempo assinalado pelo relógio versus o tempo por nós percebido.

É um tema que me mobiliza. Pra não ser excessivo (não fosse a poesia a linguagem da supressão e da concisão por excelência), vou compartilhar um poema sobre o tempo a cada postagem. Afinal, teremos tempo pra isso.