Um dia desses, numa conversa com
uma amiga e excelente poeta, ela compartilhou comigo uma coisa que subitamente
começou a incomodá-la ao exercitar sua escrita e eu prontamente concordei. Falo
da chamada poesia adjetiva. Minha amiga começou a se dar conta de que andava
usando muitos adjetivos em seus poemas.
Substantivos são os nomes das
coisas concretas e abstratas. Substantivo descreve. Verbo dá conta do agir, do
fazer, pelos verbos se traduz o que acontece. E tirando as partículas que
alinhavam o texto, pronomes, artigos, conjunções, advérbios, etc, restam os
adjetivos. Adjetivo qualifica, categoriza. E qualificação é julgamento.
A melhor poesia raramente se
constitui essencialmente de adjetivos. Um poema recheado de adjetivos, que se
excede no juízo de valores, se reveste de um caráter prescritivo. E, cá pra
nós, de prescrições já nos bastam pai e mãe, médico e pastor.
Avaliar, qualificar, comparar,
propagar valores, faz parte da nossa natureza, mas nem por isso, penso eu,
devemos dar livre vazão à volúpia de julgar e com isso incorrer no erro
fundamental de discriminar e até “eugenizar”, de categorizar castas, dar notas
de excelência e inépcia, quando na verdade somos todos diferentes e singulares,
mas iguais em nossa contraditória humanidade.
Proponho um exercício aos poetas e
aficcionados da poesia, que eu mesmo já fiz e voltarei agora a fazer: releiam
seus poemas e de outros poetas também, conhecidos e consagrados ou não. E
depois digam a si mesmos se dentre os seus eleitos, seus favoritos, predominam
os poemas adjetivos ou os substantivos.
Depois vou querer saber o que vocês
constataram. Digo isso sem pretender prescrever.
Pra fechar, quero compartilhar com
vocês uma ideia radical que me ocorreu e que resultou num poema totalmente
desprovido de adjetivos e até de substantivos, feito inteiramente com verbos,
que descrevem ação, pensamento e sentimento, fugindo do julgar e apenas no
subtexto, de forma indireta, convidando o leitor a tirar conclusões.