Metáfora é uma figura de linguagem que cria uma imagem para
substituir outra e assim significar de forma mais expressiva. No nosso
dia-a-dia, não só na Literatura e no Cinema, as metáforas marcam presença.
Sorrisos conotando felicidade, dia chuvoso representando melancolia, muitas
passam até despercebidas, de tanto que são empregadas.
A poesia é tida como a forma de expressão que mais recorre às
metáforas. Os poemas simbolistas usavam e abusavam delas e, de certa forma,
contribuíram para sedimentar esse recurso linguístico no imaginário do leitor. Certos
autores, poetas ou não, com seu estilo narrativo mais cru e hiperrealista e não
romântico, como um Charles Bukowski, chamam atenção justamente pela escassez de
metáforas em seus textos.
O Modernismo e o Concretismo também questionaram o lirismo romântico
e consequentemente se confrontaram com a escrita metafórica por excelência. A liberdade
contemporânea a reabilitou parcialmente, porque é permissiva e
multilinguística. Então tanto as formas fixas e livres, quanto os vários
estilos sintáticos e semânticos são mais aceitos, num enfoque do “tudo cabe” em
arte.
Nesse panorama da livre expressão, me permito mesclar ou alternar o verso livre
com as formas fixas e a linguagem realista descritiva com a metafórica. Em Dança, o soneto que se segue, repleto de imagens simbólicas, cujo somatório, numa
visão mais abrangente, resulta numa grande e única metáfora.
Dança
Rubras labaredas brotam das narinas
Chão que ao roçar dos cascos se incendeia
Quanta adrenalina quando escoiceia
Resta só o recurso de agarrar-me às crinas
Pelos reluzentes, ancas bailarinas
Puro vinho é o sangue a lhe ferver nas veias
Nunca vou cair, selado em densas teias
Mesmo quando galga as dunas cristalinas
Vamos descobrindo ínfimas aldeias
Dois num só pulsar a devorar neblina
Segue o nosso rastro um céu que já clareia
Brilham negros sóis no olhar que me alucina
Pégaso sem asas, salta e me estonteia
Nu sobre seu dorso vou até a China