Importante

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Uma palavra vale mais que mil imagens (provérbio apátrida pensado e escrito com palavras)


Penso que, para sermos críticos, legitimar isso, temos que exercitar a autocrítica. Vou então fazer ambos.

Tenho refletido e até conversado com algumas pessoas, sobre o emprego da imagem de forma interativa com a palavra. O advento da internet não inventou a imagem como ilustração de textos, mas certamente a popularizou e a tornou muito mais usual e frequente. Como na internet o manuseio de imagens e o acesso a elas é tão fácil, quem antes escrevia e se atinha só à palavra, hoje não resiste à tentação de agregar imagem ao texto. 

No Japão, os poetas escrevem haicais, que são só texto e também haigás, que são haicais ilustrados. Muitos desses têm como ilustrador o próprio autor do texto. Como o haicai se disseminou no Ocidente, sofreu as adaptações previsíveis e o uso da imagem se ampliou para a fotografia. Eu mesmo utilizo esse recurso para ilustrar alguns haicais meus.

A grande questão não diz respeito ao uso das imagens, mas ao seu abuso, sua banalização. Para nos atermos apenas ao âmbito dos blogs, território dos mais profícuos do casamento texto-imagem, se fizermos um longo e livre passeio por eles, raro será nos depararmos com uma postagem num blog que não tenha imagem nenhuma. No próprio caso do meu, não me lembro se já postei alguma vez sem alguma imagem. No máximo usei imagens em preto e branco sobre esse fundo preto.

Não estou fazendo a apologia da volta ao tempo que texto, palavra gráfica era exclusividade dos livros. A internet instaurou a imagem como elemento fundamental, de certa forma mais enfaticamente que a televisão, pela maior interatividade e também porque se pode visualizar imagens não só em movimento, o que amplia as possibilidades de fruição visual. O que se discute e questiona é a banalização. No caso da poesia, o caráter “didático” do uso da imagem, que tenta explicar o texto, como se a palavra em si não tivesse o poder de significar, de produzir imagens na mente do leitor. Parece um processo inconsciente de negar e esvaziar os dons, a força da palavra e da poesia.

Vou continuar utilizando a imagem, sempre correndo riscos e portanto sempre preocupado em evitar os clichês, o previsível, o didático. Imagem como comentário do texto sim, e também num sentido lúdico. Nunca levando a imagem a competir com o texto, distrair a atenção do leitor pro essencial que é a palavra, os versos, a poesia.


Vide bula


Palavra é ritmo e dança
Brinquedo de desmontar
Palavra é de som e ar
Aguda ponta de lança

Contida, exaltada. chula
Chicote ou doce canção
Carícia ou demolição
Na dúvida vide bula

É mapa, é lei, estrutura
É luz numa mina escura
Ou pura contradição

Mentira mais verdadeira
Verdade mais traiçoeira
Não diz sim e sim diz não