Importante

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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Pensativamente

O tempo é irreversível. A Terra só gira prum lado. Não rechove pra nuvem. A lágrima não escala o rosto. Mesmo os carrosséis, Arte&fatos fieis, não revertem. A cachoeira só verte


Isso posto, só há cinco reversibilidades: os filmes, reler livros, requentar cafés, bumerangues e o pensamento. Só o quinto é imprevisível. Seja o pensamuito, o pensaminto, o pensaudoso, o pensàfrente, entidade plural e maleável, vai em qualquer direção: forward, rewind, pause, play.

Do inexorável já basta tudo. Cavalguemos sem sela. Singremos sem remos pelos mares da liberdade transgressora e dos pensares.




quinta-feira, 19 de maio de 2016

Adagas

Volta e meia me dá vontade de fazer experimentações com a minha poética. Não que necessariamente eu inove, mas o simples fato de escrever algo, seja no tema ou na forma, que fuja do costumeiro, já me produz uma sensação de satisfação.


A escrita poética em geral segue uma sintaxe bem semelhante à da prosa, ou seja, os versos com frequência têm a mesma estrutura sintática que as frases, com substantivos, verbos, adjetivos, preposições, advérbios, etc, etc.

Na trilha em busca da diversidade, já escrevi sonetos só com palavras monossílabas ou só proparoxítonas, escrevi poemas circulares que quando terminam recomeçam ou podem ser lidos também no sentido anti-horário, poemas inteiros com apenas uma rima, dentre outras pequenas ou médias transgressões às normas.

Uma forma que particularmente me agrada e por isso faço com frequência são poemas de versos bem curtos, linguagem telegráfica, como estocadas de uma adaga. Versos curtos são feitos com palavras curtas, muitas das quais oxítonas, cuja sonoridade é forte. Pra mim são como pinceladas de nanquim de quem escreve ideogramas, minimalistas e expressivos.

No meu livro “Arrebatamentos e outros inventos”, publiquei um poema circular chamado Verbalizando, feito apenas com verbos no presente do indicativo e paroxítonos, em redondilha menor (versos de sete sílabas métricas). O poema que apresento a vocês neste post é o “Verbalizando 2”, também feito só com verbos, só que todos conjugados no pretérito perfeito, o que faz todas as palavras serem oxítonas. E todos os verbos-versos são dissílabos, curtos e telegráficos.

A ideia da forma espiralada foi pra diferenciar do primeiro Verbalizando e também porque ele tem um fim que recomeça e este Verbalizando 2 gira, mas vai subindo, num desfecho “pra cima” assim como as espirais.



quinta-feira, 12 de maio de 2016

Amor escrito

Ame e dê vexame. Título de um livro de Roberto Freire. Se você já ama assim, vá fundo. Se é a primeira vez, não se envergonhe.


Mas se a questão é falar de amor, ou melhor, escrever sobre o amor e mais especificamente escrever poemas de amor, acredito em coisas que pode e em coisas que não pode em poemas de amor.

Vejam, estou apenas compartilhando o que penso, sem nenhuma pretensão de impor nada nem criar novas regras num campo já repleto delas.

Penso que na poesia há que ser cuidadoso com excessos. Isso não quer dizer que o poeta diante do poema que está construindo tenha que ser comedido, se reprimir. Afinal, amor é algo intenso e como tal merece textos à altura dessa intensidade. Mas há meios e modos de se transbordar, de se arrebatar sem cair nas clássicas armadilhas poéticas (não só nos poemas de amor).

No meu ponto de vista, nós poetas precisamos tanto buscar o que o poema nos “pede”, como também evitar, fugir do que potencialmente pode tirar a força do texto.

Em poemas de amor são frequentes essas armadilhas, o que torna “perigoso” abordar esse tema. A primeira delas: os clichês, os lugares comuns. Como a produção de poemas de amor é abundante, faz sentido que se produza “mais do mesmo”. É claro que cada um é dono de si e escreve o que e como bem quiser, mas eu pessoalmente aprecio mais os textos que fogem dos clichês.

Outro detalhe: num poema de amor é mais que normal que a própria palavra amor seja usada, mas se nos distrairmos, vejam o que pode acontecer: Meu amor / Eu te amo / Nosso amor é pra sempre / Como é bom te amar...
Em poucos versos uma quase enxurrada de amor e amar. Então convém prestar atenção nisso.

Outra questão que atinge não só os poemas de amor, mas os de qualquer tema é a pieguice. Apaixonados – eu não me excluo disso – ficam meio bobos e ao poetar sobre o amor correm o risco de ser melosos sem se dar conta disso.


Enfim, ame e dê vexame na vida e também escrevendo poemas de amor, mas se lembre de sempre tentar dar esse vexame poético transbordante com alguma originalidade e surpreendendo.


sábado, 7 de maio de 2016

Invenções e confissões

Nosso muito querido e inspirado Manoel de Barros disse: “o que não invento é mentira! Fernando Pessoa, outro monstro, num trecho de um famoso poema seu, diz: “Q poeta é um fingidor / Finge tão completamente / que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.

Nunca entendi plenamente porque recai sobre os poetas e a poesia como linguagem, o compromisso com o realismo. Notem que este tipo de cobrança incide muito menos sobre outras formas de arte, como o cinema, o teatro, as artes plásticas e até mesmo sobre outros gêneros literários. Um dia ainda vou querer desvendar esse pequeno mistério.

Desconfio que um dos motivos é que se criou um paradigma, discutível, de que a poesia tem necessariamente que ser confessional, como se o poema fosse sempre uma confissão diante do padre, que nesse caso representaria os leitores, ou então talvez o poeta fosse o paciente no divã do analista-leitor. Mas essa é só uma dentre várias hipóteses.

Penso que quando Fernando Pessoa diz que o poeta finge, é seu recurso poético pra expressar o quanto os poetas podem ser delirantes e nos pegar pela mão pra com eles viajar por paragens muitas vezes desconhecidas, descortinar novos horizontes poéticos e existenciais. E se não estou enganado, concordo com ele. A fantasia do poeta, sua inventividade e imaginação têm o dom do encantamento e até mesmo de desconcertar o leitor, pegá-lo totalmente desprevenido

Álvares de Azevedo, poeta do início do século XX escreveu inúmeros poemas de amor arrebatadores sem nunca tê-los na realidade vivenciado. Tendo morrido aos 23 anos, ele nem teria tempo de ter vivenciado tantos amores. Seus lindos poemas foram fruto de pura invenção de sua imaginação lírica.

Eu, particularmente prefiro descartar a palavra mentira, que remete a moral, a coisas negativas. Prefiro dizer fantasia, delírio, invenção, imaginação. E não escapo disso. Dentre os muitos poemas que já escrevi, tem os que são sim confessionais, quase relatos de fatos e tem também ou brotados da minha livre imaginação, inclusive de amor. Chega a ser engraçado a incredulidade de alguns diante desses poemas, revelando dificuldades em assimilar o fato de que consigo imaginar idílios amorosos, lugares e pessoas que inventei, enfim, tal qual faz um roteirista de filmes, só que usando palavras em forma de versos.

Não por acaso meu livro de poemas se chama Arrebatamentos e outros inventos...

A poesia – não me canso de afirmar isso – é um território tão singular, que abriga muitos matizes, um arco-íris de imagens, sons, palavras, realismo, fantasia, narrações, jogos de palavras. É como se fosse uma galáxia boiando no Universo em que no lugar das estrelas, fosse repleta de brilhantes poemas, versos e palavras,