Importante

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pequena ode às manhãs


Manhãs...amo-as. Tão sãs. Cada uma é um prenúncio, a anti-renúncia.
Não à toa a manhã é boa até no frescor que nos traz, vapor chegando ao cais portando o novo, outro ciclo, bico que quebra a casca do ovo, laranja e azul matizando a paz silenciosa e capaz, que inaugura o novo dia, epifania do banal elevado a transcendental, profano e sagrado lado a lado e sem juiz, coisa feliz, linda e bem-vinda, recomeço, que não meço, riso sereno e reverente à deusa manhã, da alegria, a mais sã do dia.

                                                                                      

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Crônica de uma nasalidade crônica

O poeta pede licença aos queridos leitores do blablablog pra postar uma crônica experimental com a forma. Grato pela indulgência de todos!


A Carlos Menem e Richard Nixon (in memorian)


Se a boca, além de falar e cantar, é também para comer e abrir para beijar e a língua lamber e sentir os sabores, as funções do nariz não são de se menos prezar.

Então pensei em render homenagens às palavras com fonemas nasais.

Temo que tal sonoridade predominante redunde numa expressão um tanto constipada, mas como não enfatizar as nobres funções nasais sem incluir os sons anasalados mesmo que nos remetam a uma ladainha meio fanha?

Nariz, que alguns chamam de ventas, é pra sentir os aromas, inclusive os instintivos e imperceptíveis feromônios que geram atração nas fêmeas e nos machos, tanto mutuamente quanto em determinadas circunstâncias, também entre si.
Mas os narizes, em alguns rincões do planeta, bem ao Norte, servem também para manifestações de carinho, quando friccionados um no outro, como naquela nação esquimó cujo nome não consigo me lembrar neste instante. Tenho para mim que a Groenlândia não é. Bem, penso que não vem ao caso a localização. A questão é que o nariz tem múltiplas e importantes funções.

Mais um exemplo da importância deste nobre órgão: ele nos enseja a ingestão e nutrição do oxigênio presente na atmosfera, quando da inspiração, ao mesmo tempo em que impede parcialmente a entrada de alguns elementos nocivos ao bom funcionamento dos pulmões e do sangue e do organismo inteiro, em última instância. Eu tinha completa razão, como podem notar.

Vendo por outro ângulo, esteticamente falando, os narizes, proeminentes que são e tão diferentes entre si, dotam os semblantes humanos de muita singularidade, sejam aduncos, aquilinos, monumentais, ínfimos, pontiagudos, arredondados, com as narinas arreganhadas, vincados pela ação da passagem dos anos, enfim, além de, social e antropologicamente falando, se constituírem em genuínos sensores de proteção, para quando, simbolicamente falando, algo não cheira bem no ambiente, porque o nariz sempre chega na frente do resto da gente (com exceção de algumas panças avantajadas que o superam em matéria de antecipação, mas deixam a desejar com relação à função de proteção em emergências e constrangimentos inesperados).

Mas me lembrei de um item fundamental. Não fossem os tímpanos, responsáveis pela percepção dos sons, nada aqui neste pequeno ensaio faria sentido, conquanto não teríamos audição nem para os sons nasais nem para som nenhum, num arremedo de mundo silencioso, como se nele só existissem netunos e cardumes submersos.

Embora isto pretenda ser uma crônica, a homenageada nasalidade vernacular e seu órgão mór, não podem ser confundidos com uma doença crônica e portanto, convenientemente auto-detonar-se-á em alguns segundos mais.
E antes que aconteça, só posso me comprometer com uma continuação que examine os outros sentidos, mas prometendo (ou ameaçando) só usar palavras não nasais pra falar, por exemplo, do tato, que aliás é palavra oral não nasal.

Será que é possível? Oba! Olha aí uma frase inteira não nasal...

Será que faz sentido?

Vou tentar ter tato. Aguardem contato (Êta, nasalidade recorrente!). Recorrente? É nasal também! Quem aguenta? Desisto! Esta é oral! Viva!

Será que o outro texto já começou?



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Paixão pelas paixões


Sou um libriano que sempre ouviu o clichê que atribui aos nascidos sob esse signo equilíbrio. Na verdade os librianos buscam esse equilíbrio que é dinâmico e inconstante, como aliás a própria vida. A busca é que nos norteia e motiva, não a preservação de um equilíbrio inato e pré-existente.


Dentre essas oscilações humanas, tem relevo a paixão.  Somos desde sempre movidos a paixões diversas, não só a romântica entre duas pessoas. As paixões humanas moveram a História, determinaram rumos sociais e políticos, produziram marcantes avanços científicos e grandes obras de arte, tudo bem representativo do espírito do Homem.

As paixões nos iluminam ou nos empurram abismo abaixo, ou seja, desequilíbrio puro (ou impuro?). Tem algo na gente que nos impele a isso, como se no fundo precisássemos de extremismos pelo menos esporádicos pra nos sentirmos vivos. Os monges orientais certamente não se identificariam com esse texto, mas talvez eles sejam exceções nesse nosso mundão de sete bilhões de almas.

Por paixões, morre-se, inventa-se, viaja-se, jejua-se, enlouquece-se, descobre-se, trama-se. E até mesmo escreve-se ardentes e arrebatados poemas de amor! Amores amenos produzem também suas histórias e poesia, mas não creio que se situem entre os melhores textos poéticos desse tema tão recorrente na Literatura mundial.

O poema que escolhi com certeza não é dos meus mais derramadamente amorosos, mas tem veemência e um tom de revolta passional vertido no chamado discurso direto, onde o autor se dirige ao outro e traz também umas “pegadinhas” semânticas que lhe dão uma certa irreverência que contrasta com a virulência que o permeia. A começar pelo próprio título de duplo significado.




Desvenda


Intruso, saltimbanco
Irado, anjo torto
Invado e te arranco da zona
de conforto
em que te encontras
sua tonta
Bem no cais do porto
seguro, cercado de muros

Se a vida te clona
Faz de ti outra quase igual
Te trago de volta à tona
Que quero a original