Importante

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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Tempo templo: carpediemando





Tempo atemporal
Gosto estranho de amanhontem
no telejornal





O tempo (um tema bem recorrente), essa entidade que tanto nos intriga, que tanto tentamos entender, definir, descrever e vivenciar, lutando contra ou navegando ao seu sabor. Tempo: temor e templo.

São 3600 instantes por hora
muitos dos quais não vivenciamos plenamente.

Os que já foram, nos enfadam.

Os que virão, tem um muro entre nós e eles.

Melhor carpediemar cada instante que nos é dado de presente.




quinta-feira, 12 de junho de 2014

Prosapoemando ou poemaprosando



Tem poesia que é prosesca, intencionalmente ou não. E tem prosa que é poética. Guimarães Rosa, com sua prosa narrativa singularíssima foi profusamente poético em romances e contos. Manoel de Barros cria o tempo inteiro montado no dorso nu da poesia, mas, do ponto de vista da forma, produz textos que deixam todos sem ter como rotular e definir onde começa a poesia e termina a prosa e vice-versa. O que é fascinante.

Mas a coisa não fica nisso. Muita poesia que no fundo é prosa involuntária, ilude a visão do leitor do texto escrito, por seu formato de poema, onde “versos” muito mais frases, são dispostos verticalmente, literal e literariamente empilhados de modo que se parecem com poemas. Esses textos, quando ditos de viva voz e assim, apenas ouvidos, tornam mais difícil estabelecer essa distinção.

Por uma simples questão de nomenclatura, chamamos de prosa poética tanto a prosa com laivos poéticos, quanto o poema que flerta com a prosa, na medida em que guarda características da poesia, como as rimas e a rítmica, ao mesmo tempo em que se funde com uma forma de narrar mais vertiginosa, para quem lê em silêncio e também para quando ouvida. Então a prosa poética resume num só termo o que poderia ser chamado também de poesia prosaica. Mas isso não soaria bem.

Os textos de hoje se situam mais no segundo caso: da poesia tomando emprestado o modo “falado” da prosa e que se aproxima do rap,  sem no entanto sê-lo ou imitá-lo.




                                                                                 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Intreloquidades



Já há algum tempo eu vinha querendo compartilhar com vocês como nasceu a ideia de um poema, como ele se desenvolveu e ficou pronto. E tomei como amostra esse poema estranho e louco. A intenção nele é de intrigar, deixar o leitor na dúvida se está diante de palavras reais que ele desconhece - e nesse caso em doses maciças – como se o autor as tivesse pinçado de um dicionário, ou se tudo não passa de invencionice brincalhona. E é esta segunda hipótese a verdadeira. Parafraseando Manoel de Barros, só 10 por cento é mentira, o resto eu inventei.


Antes já havia escrito pelo menos dois textos com neologismos, na sua maioria resultantes de palavras existentes aglutinadas, como ambiguirvir, fusão de: ambíguo ir e vir. Esses dois poemas, um dos quais, Aromatizes, já postei aqui, têm significado e sentido, enquanto que Simplesmente, simplesmente não significa nada e nem faz nenhum sentido.



Alguns devem estar se perguntando: de que serve um poema que não tem significado? No caso específico deste poema, foi um exercício de criação de palavras e a proposta  de algo lúdico e que desconcerte, que cause um estranhamento.



O primeiro passo foi inventar palavras e com elas criar um micro glossário. Tive o “cuidado” de inventar palavras que soassem como as três formas básicas num texto: verbos, substantivos e adjetivos. Assim, bucrinejar soa como verbo, que proporciona ação e gronte soa como substantivo, porque um texto precisa de coisas e com palavras que tanto podem soar como substantivos quanto adjetivos, que são as palavras que qualificam, fiz essa diferenciação, jogando com o contexto de cada verso.



Então fui montando os versos com esses neologismos junto com preposições, advérbios, artigos, conjunções e pronomes, de modo a sintaticamente simular sentido. E ao longo dessa construção, baseada no glossário, foram também surgindo outras palavras onde vi necessidade de rimar, pra com isso, pela sonoridade, reforçar a sensação no leitor de que tudo, por mais estranho que parecesse, fosse real.



O poema, é claro, não serve pra nada além de ter sido um exercício divertido pra mim, mas penso também que pode ser usado pra levantar uma questão: a poesia tem uma ou diversas funções? Não me refiro à diversidade de temas ou de formas e sim ao papel ou papeis dela. Tem de ser sempre séria? Tem de expressar sempre emoções profundas e com isso contagiar o leitor com essa mesma emoção? Precisa sempre ser bela?



A propósito, vale conferir esse pequeno vídeo onde o genial Leminski diz com muita propriedade o que pensa sobre a função (ou disfunção) da poesia: 


http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=T-iCzSsOZy4

Bem, pensem sobre isso, mas sem excessivas tergiversações (essa palavra existe, haha), antes que as intreloquidades fiquem furbas.