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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pra que por que?

A poesia segue que trajetos? Quais são seus cânones, seus limites e fronteiras?
Ela é, como alguns (ou muitos) pensam, o limbo da criação artística ou mesmo apenas na Literatura? A prima pobre? O reduto da pieguice e do banal literário? Não é preconceito excluir o singular, o profundo e o brilhante desse “ramo” da Literatura?

E os poetas? Uns bobos alegres que se deslumbram até com folhas secas caindo de uma árvore? Uns alienados que só veem tudo bonito e esperançoso? Poetas não são ou podem ser também pessimistas e amargos ao menos eventualmente?

Poesia é âmbito e território exclusivo do lírico? Do belo? Ou tbm do rascante, sombrio e frio?

Poesia serve a propósitos? Mudou ou mudará o mundo?

O inesquecível e sagaz Paulo Leminski gravou um vídeo, encontrável no Youtube, dizendo basicamente que a poesia é um inutensílio. Ou seja, que não deveríamos atribuir a ela o solene papel de nos ensinar lições ou nos redimir. Deixemos que o bravo “Lema” nos enriqueça com sua verve inquieta: http://www.youtube.com/watch?v=T-iCzSsOZy4

Vladimir Maiakovski e Federico Garcia Lorca fizeram poesia engajada, política, libelos contra a opressão. A publicidade toma emprestado da Poesia a linguagem poética com fins comerciais e de propaganda institucional. Faz-se poesia pra desabafar, pra celebrar, pra cortejar, pra exaltar, pra mil alvos, mas também – e ainda bem – pra nenhum propósito que pelo menos seja pra descrever, discorrer, refletir, especular, sobre as coisas, a vida, a beleza, o sofrimento, a Natureza, os mistérios, enfim, sobre tudo, só que com o viés singular da palavra sucinta, da frase enxuta chamada verso, com sua sonoridade e ritmo tão próprios, ou seja, poesia pela poesia, sem que ela precise carregar o fardo do utilitarismo. Poesia pela poesia, que provoca narizes torcidos dos que teimam em querer lhe atribuir funções e nobres lemas, o que nunca foi o caso do nosso querido Leminski, "Lema” pros “íntimos”.

Mas, voltando ao início desse texto:  “A poesia segue que trajetos? Quais são seus cânones, seus limites e fronteiras?”
Como classificar escritas singularíssimas como a de um Guimarães Rosa? Que parâmetros temos? E quais são certeiros? A prosa (que já é um rótulo) de Clarice Lispector é repleta de poesia, não porque visualizemos versos, ritmos ou rimas em seus textos, mas pelo modo como ela manuseia palavras e expressões, sua escrita exala poesia. Por outro lado temos poesia com laivos prosescos em inúmeros autores contemporâneos.

Paradigmas estão sendo constantemente quebrados e criados, portanto talvez possamos dizer que o poético perpassa a Literatura, num microcosmo desse trespassar do poético na própria vida.

   
                   

Um comentário:

  1. "[...] a arte é inútil porque não foi feita para instruir ou motivar ações. Sua natureza seria soberbamente estéril[...]" Esta foi a resposta de Oscar Wilde ao espalhar por meio de seu livro O retrato de Dorian Gray, a ideia de que a arte é inutil.

    Diria que a arte da literatura se faz pela necessidade do escritor em fazer o papel criar vida. Não tem pretensão, mas atinge, não tem intenção, mas mexe, bagunça. Não é o intensional para o outro, mas sim a criação que grita desejando sair para o mundo, para o mundo. Ela não tem utilidade comercial, ela não nasce para render moedas, é neste sentido que a arte é inutil.

    Coloco aqui uma pequenina reunião de citações, que postei em meu blog:
    "Se o mundo fosse claro, a arte não existiria." Albert Camus

    "Poeta é aquele que, sob o que é nomeado, espreita constantemente as diferenças, redescobrindo o parentesco oculto entre as coisas, as semelhanças esparsas. ' Michel Foucault (A ordem das coisas)

    "A estética é para o artista o que a ornitologia é para os pássaros." Barnett Newman

    "O teatro acontece o tempo todo, onde quer que estejamos, e a arte apenas torna mais fácil persuadirmo-nos disso." John Cage

    "Temos a arte para que a verdade não nos aniquile." Nietzsche

    "Minha peça favorita de musica é aquela que podemos ouvir o tempo todo quando estamos calados." John Cage

    James Joyce formulou uma teoria da arte que definia a expressão artística como "prisão estética". A seu ver, a arte não tem finalidade; ela não existe para ensinar nem motivar. No sentido mais puro, ela simplesmente aprisiona ritmos e relações, mergulhando-nos no momento e produzindo um efeito não muito diferente do safanão ou do grito do mestre zen.

    "Fujamos da racionalidade como de uma casca horrivel e, quais frutos aromaticos, lancemo-nos as fauce imensamente distorcidas do vento! Alcemo-nos ao desconhecido, não por desespero, mas para cavar os poços profundos do absurdo." Marinetti

    A arte tem o poder de transformação. Devolvem-nos o uso dos sentidos abrindo nossos olhos e ouvidos para outra realidade.

    Parabéns por mais este texto!
    abç
    Carla - Fructus Noctivagus

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