Penso
que todo poeta acaba sendo indagado de onde vem a sua inspiração,
como brotam histórias, imagens e versos. Cada um deve ter sua
explicação e eu não fujo à regra.
Descontada
uma parcela do imponderável e inexplicável, acredito que poetar é
como sonhar acordado, porque nos sonhos emergem imagens e situações
impregnadas no inconsciente e escrever poesia não é tão diferente
disso. A escrita é mediadora entre o inconsciente e o consciente e
ao mesmo tempo o produto disso, pelo menos até que o leitor tome
contato com o texto, quando então a escrita volta a ser mediadora,
dessa vez entre as ideias, a visão e a expressão do autor e o seu
leitor.
Desse
processo de criação é parte importante a memória. Dela vêm as
palavras que darão forma e compreensão do que o autor imagina e
narra. Um certo senso de ritmo é bem-vindo e em alguns poetas isso é
instintivo e se bem empregado enriquece o texto com esse elemento,
digamos, subjacente às palavras. Considero também fundamental nesse
processo criador, utilizar as devidas e adequadas doses de razão e
emoção em cada poema, ter a percepção do quanto e como jogar com
essas duas forças.
Mas
o inexplicável frequenta o processo e por vezes traz até a sensação
de que poetar é só um desvelar, um desvendamento do que já
existia, latente, em algum lugar, apenas esperando ser resgatado,
trazido à tona, como se o poeta fosse apenas um mergulhador,
pescador de pérolas.