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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mergulhador


Penso que todo poeta acaba sendo indagado de onde vem a sua inspiração, como brotam histórias, imagens e versos. Cada um deve ter sua explicação e eu não fujo à regra.

Descontada uma parcela do imponderável e inexplicável, acredito que poetar é como sonhar acordado, porque nos sonhos emergem imagens e situações impregnadas no inconsciente e escrever poesia não é tão diferente disso. A escrita é mediadora entre o inconsciente e o consciente e ao mesmo tempo o produto disso, pelo menos até que o leitor tome contato com o texto, quando então a escrita volta a ser mediadora, dessa vez entre as ideias, a visão e a expressão do autor e o seu leitor.

Desse processo de criação é parte importante a memória. Dela vêm as palavras que darão forma e compreensão do que o autor imagina e narra. Um certo senso de ritmo é bem-vindo e em alguns poetas isso é instintivo e se bem empregado enriquece o texto com esse elemento, digamos, subjacente às palavras. Considero também fundamental nesse processo criador, utilizar as devidas e adequadas doses de razão e emoção em cada poema, ter a percepção do quanto e como jogar com essas duas forças.

Mas o inexplicável frequenta o processo e por vezes traz até a sensação de que poetar é só um desvelar, um desvendamento do que já existia, latente, em algum lugar, apenas esperando ser resgatado, trazido à tona, como se o poeta fosse apenas um mergulhador, pescador de pérolas.


Ondes e pra quês


Os poemas que ainda não pari
já existem em algum lugar
Escrevê-los é só um resgatar
e eles chegam velozes aqui

Pode ser o interior do Sol
ou talvez um fundo de barril
Ou quem sabe até nunca existiu
qual sereia que não vem no anzol

Meus papéis: o de escrever e ser
são voláteis como é o prazer
pros caprichos de algum deus sagaz

A quem servem nunca saberei
Aos escribas, ao Bobo do rei?
À Esfinge, à Pomba da Paz?